sexta-feira, 4 de março de 2016

Angela Berthon




Carroças, Carroceiros e animais de Tração: 
um problema social ou de Educação Ambiental?

É notório como, nos dias atuais, ainda verificarmos na periferia de várias cidades do país, inclua -se ai Canoas, a presença de equinos,  tracionando carroças. É um cenário muito comum, e, por mais paradoxal que seja, nos tempos modernos, ainda hoje, as carroças constituem o meio de transporte mais barato para as necessidades do dia-a-dia, desde o carreto de móveis a entulho, areia, tijolos, lixo etc., assegurando a subsistência de muitos trabalhadores do setor informal.
Considerando a quantidade de animais envolvidos e o grande número de pessoas que se utilizam dessa atividade, sendo às vezes a principal ou até a única fonte de renda de um grupo familiar, ou o meio de transporte fundamental de uma localidade, essa prática se impõe como importante questão de bem-estar, animal e humano.
Os cavalos são usados para tração de carroças, principalmente na área urbana e costumam enfrentar desde cedo muitas situações estressantes e ameaçadoras como a colocação de arreios e peias, a subnutrição, a confusão do trânsito e o barulho e movimento nas ruas, o excesso de carga e o horário prolongado de trabalho, o descanso insuficiente, o manejo inadequado. Tudo isso gera graves problemas de bem-estar para esses animais
Sabemos no entanto que, em sua grande maioria, esses animais são mantidos e utilizados pela população de menor poder aquisitivo e, comumente, de baixo grau de escolaridade. Submetidos muitas das vezes, a arreios e peias, ferrageamentos (ato de ferrar ou ferragear o animal) inadequados, esses animais provavelmente, considerando-se as exceções, são alvos de pressão e maus-tratos, levando horas sem comer, beber ou descansar, carregando peso superior ao recomendado. Concomitantemente, por falta de recursos de seus proprietários, também não recebem qualquer tipo de assistência veterinária, seja preventiva ou curativa, tal como vacinação, mineralização, desverminação (desvermifugação ou vermifugação – administração de vermífugo) e tratamento para determinadas doenças e ferimentos.
Como se não bastasse, os implementos que os prendem à carroça causam-lhes geralmente ferimentos e desconforto, além de ficarem expostos às intempéries, como sol forte ou chuva e frio. Afastados de suas condições naturais de vida, à noite, ficam presos em determinados ambientes ou amarrados em arbustos próximos às casas dos carroceiros (seus proprietários), ou quando não saem a perambular, procurando certamente por abrigo e ou comida.
E como são vistos os carroceiros?

De um modo geral, aqueles que vivem exclusivamente dessa atividade, vivem à margem da sociedade, em condições insalubres e desprezíveis, tendo um histórico de despreparo educacional e de meio ambiente.
Podemos observar facilmente vários indivíduos que são carroceiros já há algum tempo e que continuam vivendo na mesma situação de subemprego. Não dignidade pra ambos, alias o problema reside ai. Mas como mudar esse quadro, se não há nenhum tipo de apoio do poder público ? E como é que fica a situação desse animal que é tutelado pelo Estado e tem direitos garantidos por lei? Será que o Poder Público tem pensado como resolver esse sério problema social?
 É imprescindível que se promova a melhoria das condições de vida dos carroceiros, dos
 seus familiares e desses animais de tração, garantindo-lhes o bem-estar. Claro que isso demanda um grande esforço conjunto das autoridades governamentais, dos legisladores, e da própria sociedade, para que se crie uma consciência de respeito em relação a esses animais e para que se garantam as condições mínimas necessárias para a sua manutenção e o controle da sua utilização.
Com essa preocupação, atualmente, algumas prefeituras têm procurado desenvolver
programas, buscando melhorar as condições de trabalho e vida dos carroceiros. Não percebo
este movimento em Canoas, exceto por ativista da Causa Animal.
Penso que é passada a   hora de Canoas rever esta situação. Torna-se fundamental o esclarecimento e a educação sanitária dessas famílias quanto ao correto manejo dos equinos e demais animais por eles mantidos, bem como a promoção de melhores condições de trabalho para essas pessoas, visando à promoção da Saúde Coletiva, pois sabemos que que os equinos eventualmente tornam-se portadores de doenças transmissíveis aos homens (zoonoses), dentre as principais, estão a raiva, a leptospirose, a brucelose, a tuberculose, a febre maculosa e a doença de Lyme ou borreliose, estas duas ultimas transmitidas pelo carrapato do cavalo; inclusive o convívio com esses animais é muito grande, envolvendo crianças, outros animais domésticos, pessoas que coletam lixo, enfim, constituindo-se numa problemática para a Saúde Pública, principalmente quando não tomadas as devidas medidas profiláticas.
Por uma  Cidade   sustentável e sem escravidão animal. Neste caso não existe dignidade pra ambos os lados...
Autoridades  reflitam.....a questão é bem mais que ativismo ou bandeira partidária.
Angela Berthon

​Jornalista e Relações Públicas

4 comentários:

Deixe seu comentário sobre este post. Obrigada.